segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Desonra ou Privilégio?


Quando nós olhamos as condições dos mais abastados e fazemos algumas comparações por nos encontrarmos privados de certos confortos nesta vida, nos inferiorizamos e até nos desprezamos. Isso se dá porque no capitalismo ocidental somos tentados a viver como a coletividade vive: consumindo mais e mais. Por isso não basta ter; é preciso ter muito e de preferência que esse montante tangível se renove de tempo em tempo. Isso se aplica as TV’s, carros, celulares, aparelhos de som, etc. Quando não conseguimos viver nesse padrão, nos frustramos. No entanto esquecemos que Jesus não viveu num padrão privilegiado de vida mas além de ter sido um homem de realizações modestas quanto a bens, nos brindou com sua atenção para os pobres. Não poderia deixar de citar Philip Yancey, um dos maiores escritores cristãos da atualidade, que em seu livro “O Jesus que eu nunca conheci” trata deste assunto ao dizer:

"A sociedade moderna vive por regras de sobrevivência dos mais capacitados. “Aquele que morre com mais brinquedos é o vencedor”, diz a frase de um pára-choque. Da mesma forma a nação com as melhores armas e com o maior PIB. O proprietário dos Chicago Bulls apresentou um resumo compacto das regras que governam o mundo visível na ocasião da aposentadoria (temporária) de Michael Jordan. “Ele está vivendo o sonho americano”, disse Jerry Reinsdorf. “O sonho americano é atingir um momento na vida em que não é preciso fazer nada que você não queira e em que pode fazer tudo o que quer.”

Esse pode ser o sonho americano, mas sem dúvida não é o sonho de Jesus conforme revelado nas bem-aventuranças. As bem-aventuranças expressam com bastante clareza que Deus avalia este mundo por um conjunto de lentes. Deus parece preferir os pobres e os que choram, à Loteria Federal e aos supermodelos que se divertem na praia. É estranho, Deus pode preferir a América Latina do Centro e do Sul à praia de Malibu, e Ruanda a Monte Carlo. Na verdade, poder-se-ia colocar um subtítulo no sermão do monte, não a “sobrevivência dos mais aptos”, mas o “triunfo das vítimas”.



Diversas cenas nos evangelhos apresentam um bom quadro do tipo de pessoas que impressionou Jesus. Uma viúva que colocou seus últimos dois centavos como oferta. Um desonesto cobrador de impostos tão arrasado pela ansiedade que subiu em uma árvore para ter uma visão melhor de Jesus. Uma criança sem nome, sem descrição. Uma mulher com uma fileira de casamentos infelizes. Um mendigo cego. Uma adúltera. Um homem com lepra. A força, a boa aparência, as boas relações e um instinto competitivo podem trazer o sucesso para uma pessoa em uma sociedade como a nossa, mas são exatamente aquelas qualidades que bloqueiam a entrada no reino do céu. A dependência, a tristeza, o arrependimento, um anseio de mudar — esses são os portões para o reino de Deus."[1]


Luiz Augusto



[1] YANCEY, Philip. O Jesus Que Eu Nuca Conheci. 1. ed. São Paulo: Vida, 2002.

Um comentário:

Unknown disse...

Muito bom! Jesus olha o coração e adisposição que há nele, independentemente de raça, cor e classe social. Devemos lutar por uma sociedade que busque a justiça em todos os seus níveis. Abraços meu amigo.