domingo, 26 de julho de 2009

SIMPLICIDADE


E, caindo por terra, ouviu uma voz que lhe dizia: Saulo, Saulo, por que me persegues? Ele disse: Quem és, Senhor? Respondeu o Senhor: Eu sou Jesus, a quem tu persegues. (Romanos 9.4-5)

Já vi muita gente ser humilhada por causa da vaidade de líderes que exigiam ser chamados por suas identidades eclesiásticas (pastor, presbítero, diácono, professor, seminarista, etc.) por parte de outros cristãos. Parece que as pessoas acreditam que é na imposição de um título que está a sua autoridade. As pessoas podem saber o que fazemos no Reino dos Céus, tão certo como sabem o que fazemos em nossas profissões. Não há nada errado nisso. O que é biblicamente desnecessário e até contrário, são essas intoxicações vaidosas existentes entre irmãos. Quando a igreja é comparada a uma família é sempre da seguinte maneira: o pai é Deus, e os filhos são os cristãos. Não importa se esses irmãos são novos ou velhos. São irmãos. Talvez agora faça sentido o que o Senhor Jesus disse para seus discípulos, “Vós, porém, não queirais ser chamados Rabi, porque um só é o vosso Mestre, a saber, o Cristo, e todos vós sois irmãos.”[1] Já falei sobre isso aqui no blog, no artigo VAIDADE BOBA II.

O Comentário Bíblico de Matthew Henry, reconhecido internacionalmente como o maior comentário bíblico devocional já escrito, registra o seguinte sobre o assunto dessas vaidades eclesiásticas:

“O orgulho era o pecado amado reinante entre os fariseus, o pecado que mais facilmente os assaltava, e contra o qual o Senhor Jesus tinha aproveitado todas as ocasiões. Para aquele que é ensinado na palavra, é digno de elogio que honre ao que ensina; mas para o que ensina é pecaminoso exigir essa honra e encher-se por isso. Quão contrário ao espírito do cristianismo é isto! Ao discípulo coerente de Cristo resulta penoso ser colocado nos lugares principais, mas quando se olha em volta na igreja visível, quem pensará que esse é o espírito requerido? Resulta claro que alguma medida deste espírito anti-cristão predomina em toda sociedade religiosa e no coração de cada um de nós.[2]

A autoridade de uma pessoa não está em seu título, mas no bom desempenho da função para o qual foi designado nesta vida. Entre irmãos na fé não há necessidade de formalismos. Qualquer consideração de honra deverá ser com penosidade para se assumir pois ao olhar para seu professor o aluno verá a tamanha humildade e simplicidade.

A frase de Jesus a Paulo poderia ser qualquer outra como: “Sou o teu Senhor”, “Sou o teu Messias” ou “Sou o Teu pastor”, porém ouvimos apenas a simplicidade de “Eu sou Jesus, a quem tu persegues”.
Luiz Augusto

[1] Evangelho de Mateus 23.8
[2] Trecho do Comentário Bíblico de Matthew Henry sobre Mateus 23.1-12 - Matthew Henry nasceu em 18 de outubro de 1662. Foi ordenado na Igreja Presbiteriana Britânica, onde serviu como pastor em Chester de 1687 a 1712.

sexta-feira, 24 de julho de 2009

O exemplo do Evangelista


Sempre falei a respeito da necessidade do preparo acadêmico por parte daqueles que presidem na Igreja. É certo que muita gente não possui recursos ou acesso a cursos teológicos, embora hoje em dia esse abismo tenha diminuído muito. Isso é até entendível e desculpável. O que é indesculpável mesmo e que não dá para entender são aqueles discursos de que para o serviço cristão não é necessário o estudo.

Quis colocar aqui a citação do livro Crer é também pensar, do Dr. John Stott, considerado o maior expositor bíblico do século XX, sobre o maior evangelista de todos os tempos, Billy Graham, como testemunho de um dos maiores pregadores que o mundo já viu. O Dr. Graham, que já se referiu a John Stott como sendo o “maior clérigo do século XX”, fez uma declaração humildade e convidativa para os ministros da causa cristã. Veja a citação de Stott – que já foi capelão da rainha da Inglaterra:

“Sou muito grato ao Dr. Billy Graham por ouvi-lo dizer, numa preleção em Londres dirigida a cerca de 600 ministros, em novembro de 1970, que se tivesse que recomeçar o seu ministério de novo, estudaria três vezes do que estudou. “Tenho pregado muito e estudado tão pouco”, disse ele. No dia seguinte ele me contou uma afirmativa feita pelo Dr. Donald Barnhouse: “Se me fossem dados apenas três anos para servir ao Senhor, passaria dois desses três anos estudando e me preparando”.[1]

Se Billy Graham foi humilde para dizer isso, deveríamos nos envergonhar em passar a imprensão de que somos competentes demais ao pensar que não devemos continuar a cultivar nosso estudo.

Luiz Augusto
*A foto é do rev. Billy Graham.

[1] STOTT, John R. W. Crer é também Pensar. A importância da mente cristã. Trad. Milton Azevedo Andrade. Sexta impressão. ABU Editora. São Paulo, SP. 1994.

domingo, 19 de julho de 2009

Idolatria nossa de cada dia


Li um artigo do pastor da Igreja Presbiteriana da Barra da Tijuca, rev. Antonio Carlos intitulado “A Reforma Litúrgica”. O artigo mostrava vários pontos que, caso fossem seguidos, levaria a Igreja a prestar um culto mais harmonioso com a realidade das Escrituras. Decidi escrever sobre um dos pontos que o referido pastor citou. Nele dizia o seguinte:

“Nenhuma exigência que a Bíblia não faz deve fazer parte do culto a Deus. A Confissão de Westminster ensina que idolatria não é apenas adorar a um deus falso, mas adorar ao Deus verdadeiro de uma forma diferente daquela que é prescrita na sua Palavra.”

Quanto equívoco de nossa parte. Levando em conta essa afirmação, podemos enumerar os erros gritantes, ou melhor, idólatras em que temos caído. Quantas vezes nos dirigimos para o culto de maneira egoísta e formal, sem entendermos a razão real para o qual nós nos dirigimos a Igreja: Prestar culto a um Deus Santo. Quantas vezes cantamos como se estivéssemos mais preocupados com a nossa aparência e a opinião dos outros a nosso respeito. E quando o valor das vestes estão acima da sinceridade do coração e a piedade interior. O culto verdadeiro é aquele em que nos preocupamos com nossa aparência decente sim, mas também com a mudança da “roupa de dentro”. Muitos que lutam contra a idolatria iconoclasta (imagens) deveriam também se perguntar se não estão também caindo nas contradições idólatras de suas vidas. Idolatramos os cargos denominacionais como se esses fossem a condição indispensável ao serviço cristão, esquecendo que a pregação mais importante que temos a apresentar é a nossa vida e para isso não é necessário títulos. A adoração devida é aquela que não termina depois que o culto na igreja acaba. Podemos dizer que todas as vezes que a Palavra é desprezada e os seus desígnios não são ensinados a povo, isso também é idolatria.

Muitos crentes não sabem nada sobre as doutrinas básicas do Cristianismo, e isso também é idolatria. Sabemos muito sobre outros assuntos: vitórias, conquistas, campanhas, etc. No entanto não sabemos identificar quais virtudes temos como fruto do Espírito em nossas vidas e quais precisamos amadurecer e como fazer para que isso aconteça. Idolatria é ignorar ano após ano aquelas coisas essenciais a fé como: bondade, piedade, sinceridade, modéstia, igualdade, generosidade, etc. Se o problemas fosse só as imagens, as coisas já estavam resolvidas. Ser fiel a Deus é mais que evitar se dobrar a uma imagem, é permitir que sejamos parecidos com seu filho Jesus. É sermos sua imagem.
Luiz Augusto

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Ovelha - objeto alheio

"Simão... tu me amas?... apascenta as minhas ovelhas."
A frase de Jesus já foi pregada tantas vezes mas parece que ainda não foi bem compreendida. Quantos testemunhos já ouvimos daqueles que são preteridos, ou seja, deixados de lado, pelos pastores de certas comunidades. São principalmente aqueles que por suas realizações modestas não chamam a atenção dos pastores locais porque aparentemente não possuem nada a oferecer.

E aqueles que por possuirem recursos financeiros são alvos de superestima e objetos de tratamento especial? Qual a semelhança entre esses membros de igreja? É que ambos são objetos de descuido pastoral enquanto são apenas números, ou seja, estão classificados entre os que podem e tem algo a oferecer enquanto que outros não podem e nada possuem para oferecer. Será que essas pessoas foram confiadas a determinado líder para que este pudesse decidir e fazer o que bem entender com suas vidas? Afinal a quem essas pessoas pertencem? Aí está a frase de Jesus para esclarecer isso de uma vez por todas.

Embora os cristãos sejam metaforicamente e coletivamente chamados de “rebanho” e individualmente de “ovelhas” e “cordeiros”, são assim identificados como objeto de posse da divindade. A maioria dos pastores agem como se o rebanho ou a ovelha fosse seu objeto de posse crendo que possuem o direito de agir livremente como que alguém que nunca fosse prestar contas. Por isso essas acepções dentro das comunidades de fé. A metáfora pastoral é perfeita para o uso das relações entre o líder e o povo, menos por um detalhe. Enquanto que os pastores de ovelhas têm posse de suas ovelhas, o pastor cristão tem a responsabilidade de cuidar daquilo que não é seu.
O povo é rebanho sim, mas de Deus. É ovelha sim, mas de Cristo e não deles. Que os pastores protestantes se lembrem disso.